Luciano Huck descobriu aos 30 anos que havia mundo além dos jardins encastelados, murados, cercados, ultra protegidos do Morumbi. Nem sei se o queridão é de lá, ou outro bairro paulista, mas fica assim mesmo porque ilustra bem.
Em sua biografia e em reafirmação durante entrevista ao Fantástico, o apresentador disse que, apenas aos 30 anos, saiu da própria “bolha”. Ou seja, alguma coisa, como o próprio indicou, sobre entender que havia desigualdade social no Brasil e otras cositas más.
Talvez esta descoberta tenha ocorrido da necessidade de criar um quadro de muita audiência e apelo no seu recém estreado “Caldeirão do Huck”, lá no ano 2000.
É dessa percepção adquirida em quadros como “Lata Velha” e “Lar Doce Lar”, que o novo dono dos domingos globais supõe entender os problemas sociais, econômicos, históricos brasileiros.
Ativismo?
A sensação é que para Huck, seu ativismo midiático, seus projetos pontuais de glamourizar carros e casas, conferem a ele compreensão dos problemas nacionais em sua amplitude e complexidade.
Como se todos os dramas seculares nacionais estivessem enlatados em um quadro artificial de TV.
Vejam bem, eu até gosto do Luciano Huck! Não consumo seus produtos, porque não tenho afinidade com esse modelo de entretenimento televisivo. Todavia, é inegável que presta um serviço bem melhor que seus pares, apenas por não propagar os preconceitos e estereótipos padrões, à sua maneira pluralizar atrações e, até promover interesse por conhecimento mais amplo na população.
Mas se entender habilitado, capacitado a falar sobre o Brasil baseado nestes princípios e percepções reducionistas, simplórios, artificiais, em que se baseia, é forçar a barra…
Mais que isso… cogitar ser presidente da República, agindo como o adolescente Huck que descia decidido para “brincar no play”, é ultrajar a inteligência alheia.
Em tempo, o mesmo reafirma que nunca tratou explicitamente sobre se candidatar, mas admite que, “obviamente, já pensou nisso sim”.
Analisando conjunturas
E agiu. Ativamente, em eventos políticos, ladeado por autoridades, freqüentando círculos partidários, falando sobre política, analisando conjunturas e até… nomes.
Quem não se recorda de Luciano Huck, já em meio ao cenário de cisão, polarização nacional, ao lado de Moro, Dória e, principalmente, Aécio, o grande e íntimo amigo do homem do “H”.
O lado sempre foi claro, apesar das tentativas reiteradas de desvencilhar a cada novo escândalo as suas ligações com os ex-salvadores da pátria.
Indo além, apesar de pincelar abordagem sobre certa “pasmaceira” da elite. Quando Luciano Huck fez de fato uma análise profunda, crítica e autocrítica sobre as causas deste abismo social brasileiro? Indo a fundo nos problemas estruturais, que inclusive o beneficiam e a seus pares de círculos restritos.
“A revolução não vai passar na TV”, Luciano. Menos ainda será representada em um estrondoso quadro televisivo, com pobre tendo a pobreza camuflada por um artigo sendo transformado em objeto restaurado, de luxo.
Contudo, quanto aos projetos e pretensões políticas de Luciano Huck eu, realmente, desejo a ele o máximo sucesso no seu projeto “Domingo com Huck”, que substituirá o Faustão, na Globo.
Fotomontagem: Blog Sala de TV