Pressionados por aumento de combustíveis e baixo valor de remuneração nas corridas, motoristas de aplicativos perdem renda, deixam a atividade ou tentam se equilibrar assumindo outras funções paralelamente.
Esses fatores, somados aos custos de manutenção e, em muitos casos, de aluguel ou financiamento de veículos, tornaram a atividade, que já foi considerada a salvação diante do desemprego de mais de 14 milhões de brasileiros, inviável para muitos.
Na outra ponta, usuários reclamam de constantes cancelamentos de corridas, do custo das tarifas e do aumento do tempo de espera, conforme relatam os próprios condutores.
A alta da gasolina chegou a quase 30% nos últimos meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação para famílias com renda de até 40 salários mínimos, ficou em 4,61%.
Até no gás não compensa
A renda está achatada até mesmo para quem roda com gás natural. Segundo o IBGE, o gás veicular encareceu 27,50% neste ano no Brasil. Pressionados, alguns tiveram que devolver carros ainda não quitados às instituições financeiras e apelam para o aluguel, provocando uma retomada de fôlego nas locadoras, em movimento nas locadoras inverso ao verificado durante os picos da pandemia, quando faltou espaço nos estacionamentos para guardar os veículos devolvidos e sem uso.
São muitas as reclamações por parte dos motoristas quanto aos valores pagos por corrida, mas o temor de retaliação, como suspensão ou cancelamento de cadastro, faz com prefiram o anonimato ao falar sobre condição de trabalho e remuneração. Muitos assumem que rejeitam as corridas curtas por não compensar – o que tem provocado irritação nos usuários – e que a jornada é excessiva para conseguir fechar as contas no final do mês. Outros admitem que tentam fidelizar clientes fora do ambiente de aplicativos, “atitude proibida pelas plataformas”.
Um motorista que prefere o anonimato, narra o drama que vem enfrentando, um retrato das queixas de outros condutores. Ele trabalhava em categoria básica desde 2016. Em 2019, subiu de categoria no aplicativo em busca de melhor tarifa. Hoje dirige carro próprio com capacidade de 55 litros de combustível no tanque. “Quando comecei a trabalhar, o álcool era R$ 2,10 o litro, gastava R$ 115 para encher o tanque. Ontem (10/8) gastei R$ 241. Ficamos nas mãos do aplicativo, que argumenta que se subir preço perde passageiro, só que estão perdendo motoristas.”
Segundo o condutor, no início, o aplicativo pagava R$3,60 a corrida inicial e o quilômetro rodado saía a R$ 1,16, valor hoje reduzido para R$ 0,99. “Tenho carro próprio. Na época em que alugava, pagava R$1.300. Hoje, o carro básico hoje seria R$ 1.800”, calcula.
Do Estado de Minas