Medicina dá importante avanço com transplante de um rim animal para um ser humano

Utilizar órgãos de animais em humanos é um sonho antigo dentro da medicina, mas a rejeição instantânea do sistema imune a esse procedimento vinha impedindo que essa meta fosse alcançada.

Pesquisadores americanos, finalmente, contornaram essa barreira, graças à ajuda da genética.

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Pela primeira vez na história, um grupo de médicos conseguiu transplantar um rim de porco para uma paciente, sem registros de reações adversas e registrando uma atividade renal estável que durou três dias após o procedimento.

Os especialistas acreditam que essa conquista poderá, no futuro, contribuir para o fim das enormes filas de espera por doações de órgãos.

Para evitar que o sistema de defesa do corpo humano reagisse contra a inserção de um novo órgão de origem animal, os cientistas resolveram utilizar um rim retirado de um porco modificado geneticamente. O animal, batizado de GalSaf, foi projetado em laboratório sem um gene suíno que produz o carboidrado alfa-gal, um dos responsáveis pela rejeição do organismo humano.

No segundo passo para a realização da pesquisa, os cientistas buscaram um receptor adequado. Os especialistas selecionaram uma paciente que havia sofrido morte cerebral e apresentava sinais de disfunção renal. Após conseguir a autorização dos familiares, a equipe médica do Hospital Langone Health, nos Estados Unidos, realizou o procedimento.

Sem rejeição

O órgão ficou anexado ao sistema sanguíneo da paciente durante três dias, mas foi colocado fora do corpo, dando aos pesquisadores acesso a ele. De acordo com os especialistas, os testes feitos após o transplante revelaram que o novo rim executou suas atividades de forma “bastante normal” e apresentou uma produção de urina na quantidade esperada pelos médicos. Além disso, não foram registrados sinais de rejeição.

Os especialistas buscaram por alterações vistas em transplantes anteriores de rins de porcos para macacos e não encontraram as mudanças que indicavam riscos à saúde. “Foi até bem melhor do que esperávamos. Parecia qualquer transplante que eu já fiz de um doador vivo. Muitos rins de pessoas falecidas não funcionam imediatamente e levam dias ou semanas para começar. Esse reagiu imediatamente”, explicou Robert Montgomery, líder do projeto, em entrevista ao jornal americano The New York Times.

Diretor do Programa de Transplante Renal da Clínica de Doenças Renais de Brasília, o nefrologista Thiago Reis destacou que os resultados vistos no procedimento americano mostram uma solução para um problema antigo. “Esse tipo de operação de órgão animal para humano, que nós chamamos de xenotransplante, é algo buscado há mais de 50 anos, e sempre esbarramos na reação aguda do sistema imune, que acontece assim que você termina a substituição. Até os transplantes normais enfrentaram essa dificuldade no passado, e só conseguimos superar essa barreira depois do surgimento dos imunossupressores”, destacou o médico, acrescentando: “Quando temos órgãos de outra espécie isso é ainda mais difícil.”

Do Correio Braziliense

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