O médico infectologista Alexandre Cunha defendeu, de forma clara e lúdica a vacinação de crianças contra a Covid-19. Em texto distribuído pelo próprio a seus pacientes e que o Outro Tanto teve acesso, ele fala um pouco sobre não dar créditos a gurus de instagram, na crença da ciência e em como a vacina a importante para a história da humanidade.
Confira abaixo o texto na íntegra.
Caros pacientes:
Como vários aqui têm filhos e ou netos, crianças e adolescentes, e muito tem se divulgado desinformação sobre a vacinação de crianças e adolescentes contra a Covid-19, venho aqui trazer algumas informações relevantes.
A Covid-19, embora seja geralmente doença benigna em crianças, já matou mais de 2600 menores de idade no Brasil, das quais mais de 300 entre 5-11 anos. O vírus ainda esta circulando e matando no Brasil (embora, graças a Deus, com menor intensidade após a vacinação ter se ampliado) com novas variantes surgindo.
Por outro lado, temos uma vacina com mais de 90% de eficácia e muito segura – a da Pfizer. A vacina NÃO é experimental , pois já passou nos estudos pré-clínico (em animais) , clínicos (em humanos) de fase 1 (segurança), 2 (segurança, eficácia e definição de dose em grupo pequeno) e 3 (segurança e eficácia em estudo controlado em grande grupo), tendo assim deixado de ser experimental há quase 1 ano. A eficácia e segurança não só foram demonstradas no grande estudo de fase 3, mas com a observaçao pós liberação de uso (Fase 4) em quase 10 milhoes de crianças em vários países, tendo sido aprovada como eficaz e segura por TODOS os principais órgãos reguladores internacionais e nacional, com opinião favorável do Comitê Técnico do MS, de todas as sociedades de especialidades médicas envolvidas mundo a fora, além da ANVISA.
A vacina foi bem tolerada e NENHUM caso de óbito em crianças e adolescentes foi relatado nessas milhões de doses.
Assim, o número de óbitos em crianças e adolescentes no mundo está em algo, como 12.000 para o vírus e ZERO para a vacina.
Só isso já bastaria para vacinarmos nossas crianças, mas além disso a vacina consegue reduzir a chance de infecção (embora não a elimine) e reduzir o tempo de transmissão pós infecção, caso essa ocorra. Isso faz com que a vacinação em crianças reduza também o risco para aqueles que não possam se vacinar por alguma contraindicação, ou naqueles nos quais a vacina tem menor eficácia, como idosos e imunossuprimidos. Infelizmente, qualquer vacina falha em proteger parcela significativa dos idosos, devido a Imunonescência (diminuição da defesa pelo processo de envelhecimento), por isso precisamos diminuir a circulação viral para protegê-los.
A vacina liberada para crianças no Brasil é a vacina de RNAm da Pfizer. Existem alguns malucos na internet (em geral leigos ou médicos que sempre foram completamente irrelevantes do ponto de vista técnico ) dizendo que se trata de “terapia gênica”, e que, como a doença é benigna , é melhor a criança ter o contato com o vírus.
Duas considerações: 1- RNAm NÃO entra no núcleo das células, sendo IMPOSSÍVEL modificar o DNA.
2- O vírus também tem RNAm , então se o RNAm da vacina faz coisas “terríveis”, porque o vírus vivo, inteiro, com RNA e tudo mais não faria ? Se o mesmo RNAm da vacina está no vírus, o argumento de que, deixar a criança se infectar é mais seguro que a vacina, é absolutamente desprovido de qualquer lógica, por mais básico que seja o raciocínio.
Não se deixem enganar por estelionatários, aproveitadores e alpinistas de redes sociais que ganharam muita fama e dinheiro inventando dados e teorias e fazendo palestras com discursos mentirosos a respeito de tema tão sério.
Se existissem as redes sociais e pessoas assim na década de 60 alguns de nós estaríamos em cadeiras de rodas, vítimas da paralisia infantil. Essa doença foi erradicada em uma década graças a uma vacina NOVA , INÉDITA, ORAL, de vírus VIVO. Se naquela época, essa legião de malucos aproveitadores buscando fama, tivesse o alcance de hoje muita gente teria deixado de dar as gotinhas para seus filhos (nós!), “esperando ver o que vai acontecer depois de 20 anos com quem tomar a gota” e estaríamos convivendo com a poliomielite até hoje .
Se tiverem quaisquer dúvidas técnicas a respeito da vacinação, evitem tirá-las com “gurus” de Instagram.
Se não gostarem de um determinada sociedade científica (por qualquer motivo que seja) procurem a opinião de outra. Se não gostarem de determinada agência reguladora vejam a opinião de outra. Se acharem que no Brasil a questão está politizada, veja como as sociedades científicas ou agências reguladoras de outros países tratam o assunto. Só não escutem leigos, não especialistas , ou pseudo-especialistas mais preocupados com os “likes” nas redes e com a fama e dinheiro que ganham, do que com sua saúde. Coloco-me à disposição para esclarecer qualquer questionamento.
Um abraço,
Dr Alexandre Cunha – médico Infectologista Brasília DF