Os preços dos alimentos no atacado registraram a primeira queda após 10 meses consecutivos de alta, segundo dados do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). Essa mudança é significativa, pois a inflação no atacado pode antecipar a inflação ao consumidor. Se os custos para os produtores diminuem, geralmente devido a safras melhores, há uma chance de que esses custos não sejam repassados ao consumidor final nos supermercados.
Em janeiro, o IGP-M como um todo avançou 0,27%, uma desaceleração em relação ao aumento de 0,94% registrado em dezembro. O acumulado dos últimos 12 meses é de 6,75%. O destaque foi a desaceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que subiu apenas 0,24% em janeiro, comparado a um aumento de 1,21% em dezembro. O IPA, que representa cerca de 60% do índice geral, mede a “temperatura” dos preços ao produtor.
O IPA inclui as principais commodities, e um indicador específico para Produtos Agropecuários, que abrange preços de carne suína, bovina, arroz, trigo e soja, também apresentou queda. Os preços da soja em grão, por exemplo, caíram de -2,34% em dezembro para -5,71% em janeiro. Outros produtos, como bovinos e suínos, também mostraram recuos significativos.
André Braz, economista do FGV IBRE e responsável pelos índices de inflação, afirmou: “A inflação ao produtor desacelerou devido à queda nos preços da soja, do gado bovino e suíno.”
A questão dos preços dos alimentos é uma preocupação central para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, registrou um aumento de 0,52%. O grupo de Alimentação e Bebidas foi o que mais impactou o índice, com uma alta de 1,18%, contribuindo com 0,25 ponto percentual.
Os preços dos alimentos, especialmente das carnes, que subiram mais de 20% no ano, têm gerado insatisfação entre os eleitores. Uma pesquisa da Quaest divulgada recentemente mostra que 49% dos brasileiros reprovam o trabalho do presidente, enquanto 47% o aprovam, marcando a primeira vez que a desaprovação supera a aprovação desde o início da série histórica em fevereiro de 2023.
Em resposta a essas preocupações, Lula afirmou que não tomará medidas extremas e que seu foco será aumentar a produção agrícola, especialmente da pequena e média agricultura, responsável por quase 100% dos alimentos. Ele destacou a importância de modernizar a produção e aumentar o financiamento para esses produtores.
O presidente também se comprometeu a se reunir com setores produtivos para entender as razões por trás das altas de preços, citando como exemplo o óleo de soja e a carne. “Não falta alimento no Brasil. O que precisamos é garantir que o Brasil continue sendo o celeiro do mundo”, concluiu.