Em linhas práticas o bolsonarismo, ontem, provavelmente, sepultou o seu projeto de poder. Bolsonaro perdeu, ou perderá muito em breve. O seu vôo de colisão, seu ímpeto de ruptura total, sua política do caos já transbordou os limites da paciência até de aliados engatados no governo, da justiça nem se fala.
A esquerda há tempos tem centenas de pedidos de impeachment protocolados.
Partidos tradicionais, ou de grande bancada, MDB, PSDB, DEM e até o PSL, por onde o presidente se elegeu, já acenam com aprofundamento do debate em torno do tema.
O Centrão é pragmático e instabilidade incomoda, assusta. Mesmo muito bem abrigados no governo bolsonarista, muito bem contemplados, qualquer descontrole é risco de revolver muita sujeira e bagunçar a mesa dos arranjos históricos. E assim a pauta do impeachment já não é algo descartado, de imediato, como até dias atrás.
Por outro lado, o presidente sabe que está cada vez mais isolado, sem base de sustentação política.
Assim, cada vez “fala mais para dentro”, para o seu núcleo duro e radical. Estribucha e sobe o tom, engrossa a voz, estica a corda para manter os seguidores inflamados, literalmente “prontos para a guerra”.
Contudo, o problema é que, em meio a este processo, nós também já perdemos. É triste, mas fundamental admitir isso.
Fomos derrotados com a ascensão ao poder desta aberração.
Sucumbimos quando permitimos que um presidente eleito fizesse ressurgir idéia, ou pior um sentimento de militarismo sobre a nação. Que um líder instituído tratasse abertamente sobre golpe, intervenção militar, que ferisse em palavras e atos a Constituição.
Cenário desolador
A princípio o cenário ainda será desolador, com Bolsonaro, ou sem ele. Até porque o bolsonarismo perdurará enquanto sentimento inoculado nos zumbis desse Brasil do absurdo. Vinte, quase trinta por cento de cidadãos raivosos, preconceituosos, intolerantes, de falsa moral, ou simplesmente ignorantes contumazes.
São eles quem manterão essa fogueira do caos acesa e com risco de espalhar esse fogo novamente. Mas como bem disse o menino Caê, o primeiro passo é Fora Bolsonaro!
E este passo a frente precisa ser dado, de alguma forma.
Depois, bem depois começaremos a juntar os cacos, em meio a pedra sobre pedra, reconstruir o desmonte.