A indicação de Zanin por Lula é um gesto bolsonarista!
Por mais estranho que pareça alguma afirmação nesta linha, poucas coisas unem mais estes dois extremos do que tal gesto.
Antes de entrar em qualquer juízo de valor sobre a questão, o que não resta dúvidas é de quem perde com isso é o Brasil!
-Mas, por que você está atribuindo um ato de Lula a Bolsonaro?
Se remexe na cadeira o bolsonarista, aquele mesmo que passou 4 anos repetindo a cantilena para justificar as patifarias do seu MITO!
“mas e o PETÊ?? A culpa é do PETÊ!”
Antes de mais nada afirmo, categoricamente, que sim, é imoral a indicação de Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal.
O homem é amigo pessoal, advogou diretamente para Lula, esteve na linha de frente na batalha desigual contra Moro.
Sim, por sinal, vejam vocês, Moro sassaricou, fez conchavo, negociou sentença, agiu criminosamente no processo contra Lula…
Tudo mirando uma vaga no Supremo Tribunal Federal e quem vai ficar com a cadeira é o advogado da parte que ele perseguiu.
Pausa para aquela figurinha mágica:
“O mundo não gira, capota”
Mas, só seria cômico, não fosse trágico.
O castigo, todo castigo a Moro nunca será em vão, mas o remédio amargo acabou sendo para todo o Brasil.
A indicação de Zanin é imprópria, para não dizer vulgar, em qualquer circunstância.
Tão indecente que até Bolsonaro acatou como “natural, pois cabe ao presidente a prerrogativa de indicar quem ele bem entender”.
Se você naturaliza esse ato presidencial e não se atenta as transgressões morais que ele representa, tente ao menos pensar que Bolsonaro concorda contigo.
Isso deve servir para negação, afinal, concordar com este cidadão, estar no mesmo lado que ele em qualquer circunstância deve ser aterrador…
Alguns vão alegar que sempre houve indicações controversas ao STF, escolhas pautadas em predileções pessoais etc e coisa e tal.
Ora pois, esta premissa é Constitucional, sem qualquer entrave, ou limitação, fora o fictício filtro da sabatina parlamentar, aquele acordão entre as partes.
Por mais absurdo que seja a simples idéia de um presidente indicar um ministro de Suprema Corte dentro de um sistema que prevê independência entre poderes e este seja julgador de eventuais atos daquele…
Mas é assim que é.
Tófolli outrora advogado do PT, foi indicado por Lula, Gilmar Mendes era Advogado Geral da União e foi o escolhido de FHC.
Aliás, Bolsonaro iria fazer o mesmo com o “seu” representante da AGU se vencesse. Já estava na agulha e não era segredo para ninguém que o nome de Aras “estava na agulha”.
O que, ainda assim, noves fora análise direta dos perfis, seria um gesto, pessoalmente, menos agressivo que a indicação do advogado pessoal, tal qual Lula faz agora.
Imagina Bolsonaro indicando o tal Wassef, este sim o “defensor” pessoal do ex-presidente?
Além do horizonte…
Antes das paixões exacerbadas, cegueira comum e defesa irrestrita de qualquer coisa, já pararam para analisar quais as posições do senhor Cristiano Zanin sobre pautas comuns a esquerda, ao campo progressista?
Antes do reconhecido trabalho na defesa de Lula e do vínculo pessoal daí surgido, Zanin construiu sua trajetória em processos de grandes conglomerados econômicos, diretamente ligados aos interesses do mercado e nada alinhado com a esquerda tradicional.
-E o quê Bolsonaro tem a ver com isso?
Retoma o indignado bolsonarista…
Não espero que os seguidores do indigitado entendam isso, afinal, poder analítico, definitivamente, não faz parte das características deste povo.
Se não “inaugurou” os “ministros chaveirinhos” no STF, Bolsonaro oficializou. Aqueles indicados em devida subserviência ao mentor.
Instituiu a “posse” da cadeira.
Verbalizava sem pudor “eu tenho dois ministros na Suprema Corte” (se referindo ao terrivelmente evangélico, André Mendonça e ao seu outro indicado Kássio Nunes Marques), inclusive cobrava, publicamente esta lealdade.
Se o republicanismo da prática de indicação já era questionável, a barreira ética foi, definitivamente, rompida por Bolsonaro.
E não satisfeito em fazer às vezes de ventríloquo, ainda ameaçava outros membros e o próprio funcionamento da Corte.
Transformou a indicação em um total e resumido combate ideológico, com escalação de “soldados fiéis” para uma frente de batalha sempre montada, à margem do notório saber e outras virtudes.
Guerra de aparelhamento, dando algum ar de legitimidade, pelo menos no discurso de defesa a censurável escolha de Lula.
Uma tragédia anunciada.
Texto: Marcos Thomaz
Foto: Renato Pizzutto/Band