Quase uma semana de combustível mais baixo e o que ainda reverbera na mídia tupiniquim é esse tal fantasma nacional chamado “Mercado”.
Um espectro assombroso, que, curiosamente, sempre se manifesta temerário quando a coisa melhora para o “resto” dos brasileiros.
Vai ter reajuste acima da inflação para o salário mínimo… lá vem o mercado em polvorosa.
Governo vai ampliar assistência social… mercado dá xilique.
Todas estas reações mercadológicas, desta entidade sem forma, nem corpo físico definidos, são logo amplificadas pela imprensa e agentes escalados para fazer eco.
É um “Deus nos acuda”.
O anúncio da mudança de regras na precificação do combustível no país foi cercado de previsões apocalípticas e reprodução de pessimismo do tal mercadão.
Logo se enchem de termos técnicos sobre previsibilidade, transparência na Petrobrás etc e coisa e tal.
Ora, ora, o mercado especulativo, pautado e alimentado por volatilidade, manipulação de números pra lá e prá cá, preocupado com estabilidade.
Indisfarçavelmente, tudo o que está em disputa na narrativa é o rentismo, ou rentabilidade de uns poucos contra melhor distribuição de vantagens ao todo.
Não sou economista, quiçá acionista (minha Bolsa de Valores é um porquinho de barro), mas objetivamente, não vejo sentido em termos uma gigante em um setor tão essencial como o energético, que mexe em tantas cadeias, sem dividir com a população esse posicionamento estratégico.
Além de se tornar refém do mercado internacional, a Petrobrás, há alguns anos, escolheu distribuir dividendos a acionistas em detrimento de investimentos em renovação de fontes de energia e tudo o mais.
Essa conta negativa de deixar de investir em pesquisa e explorar novos mercados de energias limpas não incomoda ao mercado, aquela “alma” sempre preocupada com a boa governança da empresa?
Quem quiser que caía neste canto da sereia…
Mercado é sedento por lucros imediatos, dinheiro no bolso… deles e concentração de riqueza.
O resto é floreio para decorar a roupagem do discurso que vestem e tentam colorir o Brasil…
Ninguém aqui está desprezando interesses privados, do empresariado.
Esse é o nosso sistema, nosso modelo econômico mundial, mas ser refém destes interesses exclusivistas, de amplos lucros a uns poucos?
Fato é que após o estardalhaço do “Mercado” antes e depois do anúncio do fim da paridade internacional, a gasolina baixou dos cinco reais, por conseqüência espera-se que alimentos venham a baratear e inflação cair, o que, por tabela, também forçaria redução dos juros do Banco Central, o grande cavalo de batalha do governo Lula.
Por sinal, pela primeira vez em tempos, agentes do BC projetam redução abaixo de 6% da inflação e queda também do dólar, ao fim de 2023.
Ah, e as ações da Petrobrás subiram, vejam vocês.
Um belo fogo amigo contra o tal Mercado, senhores donos da riqueza.
Fiquei até confuso.
Texto: Marcos Thomaz
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