Desde ontem (13), algumas cidades brasileiras começaram a oferecer a vacina da Pfizer às pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante da AstraZeneca e estão com a segunda dose que protege contra a covid-19 atrasada.
Essa decisão acontece após algumas capitais registrarem falta de estoques do produto da AstraZeneca durante as primeiras semanas de setembro. Aqui em João Pessoa, a iniciativa deve ser adotada nos próximos dias.
E por que isso está acontecendo?
De um lado, representantes de Estados e municípios alegam que o Ministério da Saúde deixou de enviar vacinas que foram prometidas para o mês — o governo de São Paulo, por exemplo, afirmou ter recebido quase 1 milhão de doses a menos que o previsto.
“O não envio destas doses pelo Ministério da Saúde descumpre uma obrigação do órgão federal em disponibilizar vacinas necessárias à imunização complementar das pessoas que já tomaram a primeira dose da vacina”, acusam os dirigentes paulistas, em nota publicada no site do Estado.
Do outro, representantes do governo federal criticam os governadores e prefeitos que fizeram planos próprios de vacinação e não seguem as diretrizes estabelecidas no Programa Nacional de Imunização, o PNI.
O que diz Queiroga?
Em entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira (13/9), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, classificou a situação como uma “Torre de Babel vacinal”, numa alusão bíblica à falta de diálogo entre as diferentes esferas de poder.
“Eu peço que os gestores de saúde sigam o PNI para nós, juntos, conseguirmos fazer uma campanha [de vacinação contra a covid-19] mais eficiente”, disse Queiroga.
“No final de semana eu estive no Amazonas, visitei uma unidade de saúde ribeirinha e lá tinha CoronaVac, vacina da Pfizer e da AstraZeneca. Por que lá tem vacina e no principal Estado do país não tem?”, perguntou o ministro, numa alusão aos protestos do governo de São Paulo.
Em meio às discussões, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e responsável por finalizar a produção da vacina da AstraZeneca no Brasil, informa que vai liberar novos lotes, com cerca de 15 milhões de doses, a partir da terça-feira (14/9).
Cabo de guerra
Não é segredo para ninguém que a campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil é marcada por desavenças e pela falta de coordenação entre governo federal, Estados e municípios.
“O que fez o PNI ser um sucesso nas últimas décadas foi uma política unificada, com decisões que serviam para todo o país”, contextualiza a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou esse programa no Ministério da Saúde entre 2011 e 2019.
O problema é que, durante a atual pandemia, os critérios ficaram bagunçados e os governadores e prefeitos passaram a seguir regras próprias.
“Isso só demonstra a desorganização da nossa campanha. O Ministério da Saúde faz um plano e Estados e municípios buscam uma independência que vai gerar o desabastecimento”, entende a especialista.
Com o Estado de Minas