A comercialização de novas cotas de consórcio para compra de imóveis, mesmo com a pandemia, cresceu 66,5% nos seis primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020. O volume de crédito movimentado foi de R$ 44,2 bilhões – alta de 88,3% em relação aos seis primeiros meses do ano anterior. O tíquete médio das cartas também subiu, saltando de R$ 171,4 mil em junho de 2020 para R$ 190,3 mil no mês passado (+11%).
Somente em junho foram registradas 45,7 mil novas adesões, crescimento de 58,7% em relação às 28,8 mil cotas comercializadas no mesmo mês de 2020. Os dados são da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abacac) e dão conta do crescimento do setor em plena pandemia.
Segundo os especialistas, consórcio é uma modalidade de compra do tipo “planejada”, na qual o consumidor, dentro de um grupo, vai pagando as prestações para só depois poder usufruir do bem, quando do sorteio ou antecipação por lance (entrada). Não importando se casa, terreno, cirurgia plástica, veículo ou um celular.
Também costuma sair bem mais barato quando comprado com financiamento. Em média, paga-se 22%, 24% a mais do valor do bem no final, a título de taxa de administração. No financiamento não é raro esse cálculo passar de 100%.
“Essa é uma compra consciente, planejada, feita com a participação de grupos, na qual você precisa conhecer a média de lance de cada um deles antes de entrar. Não é exatamente para quem tem pressa. Quem é ansioso paga juros. Financia um imóvel para si, outro para o banco”, diz o gerente-executivo de vendas do Consórcio Nacional Bancorbrás, Wagner Soares Vilas Boas.
Culpa do home office
Soares credita o bom momento do setor à própria pandemia, ao home office, à necessidade do isolamento social. Também ao desempenho da economia, ao fato de a redução dos juros (Selic) efetivamente não chegar à ponta (dos financiamentos), e à queda da rentabilidade de aplicações financeiras tradicionais de renda fixa.
“Tem muita gente programando, investindo na compra de um segundo imóvel por meio de consórcio, visando, no futuro, uma segunda renda, por exemplo. Tem gente interessada em um up grade, mudar para uma casa ou apartamento maior. A pandemia, de uma forma ou de outra, ressignificou o conceito de moradia para a maioria”, diz.
“Até mesmo o home office influenciou, contribuiu para essa mudança de comportamento. Nesse período, muita gente conseguiu economizar com combustível, alimentação fora de casa. Nós aqui, por exemplo, ocupávamos seis andares de um prédio (com salas comerciais) e devolvemos a metade. Quer dizer, houve economia em grande parte dos lares também. E uma parcela grande das pessoas está investindo em imóvel”.
No Bancorbrás as cartas de crédito para o segmento vão de R$ 115 mil a R$ 1,127 milhão, em até 240 meses. Soares fez uma projeção de quanto ficariam as prestações de um consórcio no valor de R$ 200 mil, contra um financiamento no mesmo valor. Segundo ele, em um prazo de 220 meses, o consórcio teria uma parcela na casa de R$ 1 mil, enquanto que no financiamento, de até R$ 2,2 mil.
Dessa forma, fala Soares, é como se os “juros” do consórcio fossem de 1,2% ao ano, contra uma média de 8%, 9% de um financiamento. Ele destaca ainda a possibilidade do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como forma de “acelerar a contemplação”. Ainda segundo ele, uma carta de R$ 200 mil requer, em média, lance de R$ 50 mil.
Casas de temporada
Por meio da assessoria de imprensa, o presidente-executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi, escreveu que, com “características exclusivas”, o consórcio é um “importante mecanismo para a educação financeira, que cresce cada vez mais perante o consumidor”.
“O consórcio se adequa perfeitamente ao comportamento dos interessados, ao possibilitar um investimento econômico para aquisição de bens ou serviços desejados, inseridos em planejamentos individuais, familiares e empresariais”.
Especialista em gestão ambiental, Julieta Sabino, 43 anos, faz planos de contratar uma cota de consórcio para iniciar seu projeto de futuro: casas na praia para aluguel por temporada. Segundo ela, financiamento está fora de cogitação. Julieta diz que conta com saldo na conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço como forma de pagar o lance.
“Tenho feito cálculos e já sei que essa é a melhor forma para mim, que não tenho tanta pressa. É algo para (realizar) daqui a cinco anos. Qualquer financiamento é com 300 meses, até 420 eu tenho visto”, afirma.
Sem limites
Diretor da Bradesco Consórcios, Francisco Henrique Franca Fernandes destaca que a instituição possui cartas de imóveis a partir de R$ 80 mil, com taxa de administração a partir de 1,38% ao ano, em até 192 meses para pagar. Segundo ele, “não há limite para contratação”.
“Pois oferecemos o chamado projeto estruturado, que permite ao cliente adquirir diversas cotas e unificar os valores para comprar o bem desejado. Tudo desenhado por nossos especialistas de acordo com a demanda”, diz ele.
Viabilizador de sonhos
Segundo Fernandes, o consórcio é um “viabilizador de sonhos”. “Oferece a possibilidade de planejar a aquisição de um bem a um custo atrativo com parcelas que cabem no bolso. Além disso, é um produto flexível, que permite adquirir bens imóveis residenciais, rurais e comerciais – e eles podem estar na planta”.
Ele explica ainda que, nessa categoria, o consorciado pode usar o valor da carta de crédito para construir ou reformar, além de adquirir terrenos, ou mesmo quitar um financiamento imobiliário. “Todos os meses, milhares de clientes são contemplados. Já na hora de adquirir o bem, o consorciado ainda conta com poder de negociação para pagar o bem à vista”.
Ainda de acordo com o diretor, outro ponto relevante é que até 10% do valor da carta de crédito pode ser utilizado para reembolso de despesas com cartório e ITBI, bem como para aquisição de móveis planejados.
Do A Tarde